domingo, 26 de abril de 2009

Isto é Brasil

Por que tanto alarido com as passagens aéreas dos senadores e deputados, distribuídas a granel a familiares e apaniguados? Essa pilantragem antiga é mínima na maré de corrupção que desmorona o que deveria ser uma sociedade organizada a partir do poder político. O Congresso Nacional virou próspera agência de viagens, mas – no cômputo geral dos absurdos no Executivo, nas empresas estatais, no Judiciário e no próprio Legislativo – isso é quase nada.

Não é, porém, o tamanho que define o absurdo, mas o simbolismo em si. Viajar em dois anos 40 vezes ao Exterior por conta do poder público desmascara um velho hábito: entre nós, tudo o que é público é desprezível. Seja a verba da passagem, a merenda escolar, o lixo que atiramos nas praças, os resíduos vertidos aos rios ou o fogo ateado à mata, nada disso respeitamos porque “é público”. Ao ser de todos, só nos cabe usufruir...

A coisa pública não é vista como instrumento para prestar serviços à sociedade, mas como algo ao nosso dispor pessoal. Nas obras do Executivo, o percentual da “propina” virou rotina, pois o dinheiro “não tem dono”, é do Estado!

Nisso, as viagens dessa gente que se chama entre si de “Vossa Excelência” (linguagem pedante, sem paralelo no mundo inteiro) são a imagem concreta do parlamento. No Senado, na Câmara Federal ou na Assembleia Legislativa, funcionários vão e vêm sem parar para lubrificar uma burocracia destinada quase tão só a garantir a reeleição do patrão-parlamentar.

A noção de Estado deixou de existir. Caminhamos para uma subdesenvolvida visão plural do “L’État c’est moi” – “O Estado sou eu” – do rei Luís XIV.

O que dizer dos entreveros verbais do presidente do Supremo Tribunal, Gilmar Mendes, e do ministro Joaquim Barbosa, “o Negrão”, como o chamam por lá, onde, antes, nunca entrara alguém de cor? Não disse ele o que milhões de pessoas indagam em surdina e os meios de comunicação refletem? “Não estarão destruindo a Justiça no país? Ou destruindo a credibilidade do Judiciário?”

No mesmo dia, outro tribunal superior ordenou libertar o fazendeiro do Pará que mandou matar a missionária norte-americana Dorothy Stang, que evangelizava índios e camponeses dando-lhes consciência cidadã...

Portanto, as perguntas que ficam são: o que nós, enquanto cidadãos, podemos fazer para mudar essa situação?
É verdade, como disse o Potter, do Pretinho Básico, que o Congresso Nacional é a nossa cara, porque faríamos as mesmas coisas caso estivessemos lá?
E o Judiciário? A Veja (claro, sempre ela) ainda diz que o ministro Joaquim Barbosa perdeu a "compostura"...
Mas e o Gilmar Mendes?
Quem "venda" Habeas Corpus para o Maluf??
O filho dele??
Os escândalos com Chico Mendes, seu irmão?
O Daniel Dantas?? Que justiça temos nesse país?? Há solução?
Aqui neste blog, VOCÊ DECIDE... hehehe

sábado, 18 de abril de 2009

A favela no limite

O governo do estado do Rio de Janeiro decidiu erguer muros de 3 metros de altura para impedir que os barracos avancem em direção à mata ou se dependurem em áreas de risco. Não demorou para que a iniciativa fosse crivada de críticas, dando conta de que a intenção das autoridades só poderia ser segregar os pobres.
O caso ganhou repercussão internacional. Surgiram comparações com o Muro de Berlim e o da Palestina, para ficar em apenas dois exemplos citados em seu blog pelo escritor português José Saramago. E disseminou-se a ideia estapafúrdia de que as favelas seriam integralmente cercadas, ganhando feições de cidadela medieval. O suplemento de turismo do jornal espanhol El País chegou a publicar que os muros têm por objetivo esconder as favelas, e uma jornalista francesa procurou assessores do governo para saber que tamanho teriam os portões de acesso aos morros. Houve quem se preocupasse com o aspecto mais formal da história, defendendo a substituição dos muros por cercas vivas, e estabeleceu-se uma celeuma em torno de que espécie de planta seria mais adequada para essa finalidade. Nesse campo fértil para desvarios, a discussão ganhou um viés ideológico que desviou a questão de seu foco principal: a necessidade de conter o avanço das favelas.

Qual a sua opinião sobre a construção desse muro? Segregação? Guetos? Divisão ricos e pobres? Um mal necessário?

domingo, 12 de abril de 2009

“A reação é tão grande hoje contra o parlamento, que talvez fosse a hora de fazer um plebiscito para saber se o povo quer ou não parlamento!!

Meninos e meninas, eu vi. Eu vi o senador Cristovam Buarque, na tribuna do Senado, sugerindo um plebiscito para que a população decida sobre se o Congresso deve ou não ser fechado. Disse ele: “As razões não são apenas as dos escândalos. São as razões da inoperância e são as razões do fato de que estamos hoje numa situação de total disfunção diante do poder. De um lado, tem as medidas provisórias do Executivo e, de outro, as medidas judiciais do Judiciário. Nós somos quase que irrelevantes”.

Não fosse o tom brando e adocicado, o discurso do senador Cristovam Buarque teria sido peça-padrão do papo político nacional. Típico, típico, mesmo seria proferi-lo em tom indignado, numa mesa de bar. Mas o roteiro foi clássico. Começou reprovando obviedades e terminou propondo uma asneira. Ele não quer uma reforma política como precisaria ser feita. Ele sugere uma espécie de AI-5 da “cidadania”. Ou haverá quem tenha dúvidas sobre o resultado de tal consulta popular, caso a ideia fosse levada a sério? O senador, que diz ser contra o fechamento, mas propõe o plebiscito, é o Márcio Moreira Alves da vez.

Eis, leitor, para onde desanda o parlamento em nossa combalida democracia, por culpa de uma elite que só o vê como palco do jogo de interesses e conveniências, de um modelo institucional que há um século não consegue produzir algo melhor do que isso mesmo, e de um plenário que se abaixa até mostrar os fundilhos.

Se é verdade que cada povo tem o governo que merece, não é menos verdade que cada povo tem o sistema de governo que suas elites preferem. A inteligência brasileira, infelizmente, não vai além dessa geringonça que temos aí. Não se espere do cidadão comum, do homem da rua, que aponte as origens das mazelas que observa nem que conceba modelos institucionais para corrigi-las. Isso cabe à elite política, acadêmica, cultural. E ela é, hoje, nosso maior problema.

O que você acha dessa atitude do senador Cristovão Buarque? Qual sua opinião sobre o Congresso Nacional? De quem é a culpa por essa situação dos nossos políticos?

sábado, 4 de abril de 2009

Cidade italiana determina separação de nativos e imigrantes em linha de ônibus

Uma nova questão na área da segurança e da tranquilidade. A partir de segunda-feira, os imigrantes e os cidadãos de Foggia (região italiana de Puglia) que usam a linha urbana 24 viajarão em ônibus diferentes. Um para negros e outro para brancos. Foi o que decidiu o chefe de polícia, que depende do Ministério do Interior. Para a empresa local de ônibus e para o prefeito, de centro-esquerda, pareceu uma medida razoável.

A linha 24 cobre o trajeto que leva do centro da cidade até o bairro periférico de Borgo Mezzanone. Perto do lugar, a 2 quilômetros, se situa o Centro de Permanência de Requerentes de Asilo (Cara, na sigla em italiano), que hoje abriga 800 pessoas, apesar de só ter capacidade para 500. O prefeito Orazio Ciliberti explicou que a linha 24 estava causando problemas por estar sempre lotada. "Os passageiros iam amontoados e algumas vezes os nativos acusavam os estrangeiros de não pagar passagem; os estrangeiros acusavam os italianos do mesmo e havia brigas frequentes. Assim melhoramos o serviço e evitamos as brigas."

A única diferença entre as duas linhas 24 é que a dos imigrantes, quase todos subsaarianos, terá uma parada a mais, perto do Cara, que a linha usada pelos nativos. O prefeito argumenta que a separação favorece os imigrantes, que não terão de caminhar tanto.

O governador da região, Nichi Vendola, disse que a medida lhe parece um "apartheid intolerável" e pediu ao prefeito que se os serviços atuais são insuficientes sejam reforçados "para todos". "A linha para extracomunitários tem todo o sabor de separação, deve ser abolida o mais cedo possível", disse.

O tunisiano Habib Ben Sghaier, presidente da Associação de Comunidades Estrangeiras de Foggia, considerou a medida "puro racismo" e disse que fica difícil acreditar que tenha sido aprovada pela delegação de governo.

Mas a ONU, através de sua agência para refugiados Acnur Itália, defendeu o serviço e considera que não é discriminatório. Segundo Laura Boldrini, porta-voz da agência, "o ônibus que conecta o Cara de Borgo Mezzanone com a estação de Foggia está ativo há vários anos. Se a linha fosse a única utilizável e fosse proibido aos imigrantes utilizar outros meios públicos, seria um fato gravíssimo. Mas segundo a informação que temos, não é essa a situação."

Segundo a Acnur, o dado positivo é que a comunidade local de Foggia sempre foi acolhedora com os filhos dos solicitantes de asilo, que frequentam as escolas locais. "Para evitar tensões entre os moradores e os imigrantes, é importante que haja disponibilidade de serviços para todos, incluindo transportes públicos", acrescenta a porta-voz, "e que se aumentem os transportes entre o Cara e a cidade."

O alto número de imigrantes que espera o direito de asilo, indica também a Acnur, "não ajuda na tranquilidade da convivência".

Xenofobia... Em pleno século XXI, ainda temos atitudes como essa, em um país de Primeiro Mundo. Qual sua opinião sobre esse assunto?